Wednesday, October 13, 2010

Pisando em novos territórios

Eu lembro da primeira vez que eu aterrisei em terras estrangeiras...tudo parecia tão NOVO e diferente, nada familiar ao meu "antigo mundo." Eu podia sentir em meu corpo uma mistura de sentimentos, exaltação e medo ao mesmo tempo... medo de não saber o que esperar, mas também uma exaltação que alimentava minha curiosidade e desejo de conhecer “o novo.” Todos os sinais estavam escritos em uma língua diferente que eu não estava acostumada, todos os diferentes sons que eu ouvi, alguns deles eu entendi, outros... passavam pelos meus ouvidos sem fazer nenhum sentido para mim. Os sinais na estrada não me diziam para onde eu estava indo... Eu não tinha nenhuma idéia sobre a localização geográfica da minha nova casa, eu não conhecia um monte de coisas. Você alguma vez já experienciou o que significa não conhecer nada e assistir os momentos se revelarem à medida em que você vive? Isso foi o que eu experienciei quando eu migrei para um novo lugar que eu ainda não podia chamar de “ minha casa,” e que ainda parecia estrangeiro para mim.

Mas eu não tinha tempo para pensar muito sobre o “novo,” porque eu estava interagindo com “o novo” o tempo inteiro. Eu me lembro quando eu encontrei a família do meu marido pela primeira vez e meu corpo se moveu num impulso para cumprimentá-los com um beijo- para expressar um "prazer em conhecê-los" como eu estava acostumada a fazer. Eles não beijavam quando cumprimentavam alguém que eles não conheciam, eles na verdade não beijavam, para minha surpresa. Você pode imaginar a estranheza que é você tentar beijar alguém e ver alguém virar o corpo. Você fica parado por alguns segundos, confuso e ... Sem ter tempo para pensar, eu fui abraçada, um abraço sem muito afago, mas um abraço. Eu me senti confusa, estranha, e sem conseguir expressar a mim mesma. Em um certo nível, eu me senti enquadrada para ser e agir de uma determinada forma. Aquela não era eu, ou pelo menos, eu não conhecia aquela minha versão de “mim” cumprimentando alguém. Nesse novo lugar, não era esperado que eu beijasse pessoas quando as cumprimentasse, pelo menos não pela primeira vez, isso se eu fosse sortuda o suficiente para encontrar alguém que apreciasse os cumprimentos com beijos da minha cultura. Meus beijos significavam intimidade. Na minha cultura, isso era muito normal, e não incluía “intimidade demais,” mas expressava certamente meu prazer em conhecer uma nova pessoa, com toque de afeto, porque não?
Ao longo do tempo, eu fui aprendendo as regras da nova terra estrangeira, nem sempre fui muito bem-sucedida, até porque a minha idéia de mim mesma e de como me comportar estava sempre ancorado na minha cultura. Eu me lembro de quando meu corpo traía a minha intenção racional em um par de segundos... eu pretendia apertar a mão, ou abraçar quando apropriado, e meu corpo movia quase que automaticamente, num impulso para beijar ao cumprimentar a nova pessoa. Eu me lembro de inúmeras experiências de discomforto em situações como esta. Mas aquela era a forma que eu conhecia de cumprimentar. Eu levei um tempo para aprender, eu penso que eu tive que  integrar essa "outra" forma de cumprimentar, então meus beijos se tornaram menos automáticos, e apenas uma outra forma de dizer "prazer em conhecê-lo."

Eu não posso dizer que eu estou acostumada a estender meu braço e apertar a mão de alguém... algumas vezes parece ainda muito formal para mim quando não deveria ser em certas situações, como quando você está conhecendo os amigos dos amigos. É apenas uma forma de cumprimentar pessoas. Eu pude aprender que em algumas culturas as pessoas nem mesmo se tocam na hora de cumprimentar uns aos outros.

É somente quando você deixa o comforto de “saber,” da familiaridade que viver no “seu país, sua casa” traz pra você, é que você pode aprender coisas novas e convidar pessoas a conhecerem o novo, mas o novo traz a surpresa e o medo do novo também, mas também traz um convite para o encontro com as diferenças, um encontro que pode promover conexão. Ao longo do tempo, eu fui me sentindo menos rejeitada, menos enquadrada e mais aberta para novos estilos de cumprimentar uns aos outros. Eu na verdade comecei a me supreender com alguns beijoqueiros, vindo me cumprimentar com beijos sem eu esperar, e eu pude aprender “ Oh, agora você beija para dizer oi!"

3 comments:

  1. Flora e Yane, meus parabéns pelo projeto. Com certeza vou ficar acompanhado o Blog pois adoro o tema!! Em relação a esse post eu me vi muitas vezes nessa situação, no momento é realmente ruim e muito desconfortavel, mas depois da ate para rir da situação!! :)
    Um beijo!

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  2. Florinha e Yane, parabéns pelo blog. Muito interessante e gostoso de ler. Ýane, Florinha já sabe: eu também tenho um blog no qual eu trato das particularidades de se viver entre duas culturas. Dá uma passadinha lá. http://soltandoosverbos.blogspot.com/
    Sucesso com o blog de vocês.
    Cris

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  3. Parabéns Florinha e Yane. Muito legal a iniciativa de vocês de criar este blog. É um tema atualíssimo e, com certeza, vocês trarao contribuicoes importantes pra discussao do "estar estrangeiro". Vou acompanhar com muito carinho o blog. Beijos e sucesso com o blog! Gal

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